Café da Maria

Era um início de semana quando me reuni com integrantes da Rede Agroecológica Caiçara e com a Michele. A Rede estava prestes a perder seu espaço de comercialização; o imóvel estava condenado e precisava passar por uma longa restauração. Michele sabia da minha admiração por aquele grupo e ela mesma acabou se envolvendo a ponto de oferecer o espaço do Cannelle para abrigar a feira. Empolgada com o movimento, sugeri desenvolver um café da manhã para acompanhar o novo espaço espaço da Rede. E naquele dia de começo de semana definimos que na sexta-feira faríamos a primeira edição. Mergulhei dde cabeça na aventura de criar um cardápio e produzir os alimentos em um par e meio de dias.
Nascia ali o Café da Maria, num ambiente descontraído, leve e com uma linda vista pro mar.

Essa era a minha vista da janelinha na cozinha do Cannelle.

A proposta do Café da Maria era proporcionar uma refeição com sabores locais, saudável e sustentável.

A proposta foi proporcionar uma refeição com sabores locais, saudável e sustentável. Adaptei uma receita com levain para servir um pão fofinho e parcialmente integral, feito a partir de muitas horas de fermentação natural. A manteiga, sempre que disponível, era da roça. As geleias feitas de frutas colhidas em Ubatuba, assim como muitos dos bolos. Os ovos vinham sempre de galinhas caipira-caiçaras e o leite era fresco. Teve café de dia a dia, com direito a repeteco, e também de pequeno produtor. A busca sempre foi pelos orgânicos e as PANC (plantas alimentícias não convencionais) marcavam presença em alguma receita e/ou na decoração comestível.

Ao adentrar o segundo mês de funcionamento, percebi que precisaria de um apoio na cozinha para lavar a louça. Afora isso, todo o mais era de uma mulher só: com antecedência eu fazia as compras, produzia um dos pães, o bolo, o pão de queijo, o tomate confit. No dia do café, recebia os pedidos, preparava tudo, entregava a bandeja pela janelinha e, ao final, recebia o pagamento e o sorriso que em geral o acompanhava. <3

janela do Café da Maria
E assim os clientes encontravam a janelinha do Café da Maria.

Mais do que um café da manhã, o Café da Maria era uma festa de encontros.

Enquanto aguardavam o preparo de seus pedidos, as pessoas aproveitavam a feira da Rede Agroecológica Caiçara para comprar hortaliças orgânicas e alimentos artesanais, todos produzidos na cidade e em seu entorno. As crianças brincavam livremente no parquinho em frente, entre o Cannelle e o mar, enquanto as mesas coletivas e individuais eram ocupadas de maneira festiva, com encontros marcados e muitas vezes casuais. Foi emocionante ver como a atmosfera naturalmente se desenhava leve e festiva.

Esse foi um dos hits do Café da Maria, o pão fofinho de fermentação natural. O preparo leva mais de 48h e o resultado é um pão leve, de fácil digestão e sabor levemente adocicado. Irresistível depois de ir à chapa com manteiga.

Quase um ano depois, a feira de quarta da Rede Agroecológica Caiçara está totalmente reestabelecida na Ilha dos Pescadores, seu local de origem, agora no Pagú Ubatuba. Mais do que isso, está ao ar livre, compartilhando espaço com todo o charme do entorno. Chegava a hora do ciclo da Rede no Cannelle finalizar e, consequentemente, o do Café da Maria também.

bolo de pão de queijo
Foto: Beth Leme.
Essa receita de bolo de pão de queijo desenvolvi para o Café. Cada fatia dessa era partida ao meio e ia para a chapa de ferro com manteiga. O resultado é um pão de queijo macio e molhadinho por dentro e tostadinho e levemente crocante por fora.

Uma experiência afetiva e transformadora.

Para mim, Maria, foi – e tem sido – uma experiência memorável, afetuosa em todos os sentidos. Cozinhar com amor, entregar pessoalmente a comida, trocar olhares e sorrisos com quem por ela será alimentado, é de uma profundidade de alma. Modificada e enriquecida por essa vivência de quase doze meses, me recolho para a minha cozinha para retomar as plataformas nas quais comecei minha trajetória na gastronomia: o blog, o YouTube e as redes sociais. Por esse caminho, troco menos olhares, mas adentro por milhares de portas. Este será também um ano de mais estudo, porque há muito o que aprender e pensar e, ao elaborar cada novo aprendizado, compartilhar com vocês.

Foto da Beth Leme, que começou a frequentar e logo virou assídua e muito querida.

Agradeço a todos que tornaram esse projeto o sucesso que foi, lindo do princípio ao fim.

Caprese do meu jeito, com pão de fermentação natural, tomate confit, lascas de queijo Canastra e manjericão.
abacate ovo mexido cogumelo portobello coalhada seca
Cada semana tinha um especial do dia. Nesse foi abacate com cogumelo Portobello, ovos mexidos, coalhada seca e gersal.
Bolo de mexerica com calda caseira de morangos orgânicos, trapoeraba e flor de mostarda.
ovo mexido com bacon
Ciabatta de fermentação natural e ovos caipiras mexidos com bacon artesanal.
Bolo azul tingido com jenipapo verde, com calda de limão e trevos
Bolo azul, tingido com jenipapo verde, com calda de limão e trevos.

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4 comentários

  1. Maria Helena Caldas diz:

    Que orgulho de vc Maria ! Pelo que entendi o Café da Maria no Canelle encerrou esse ciclo, é isso ? Sinto tanto n ter conseguido ir pra Ubatuba a tempo de poder conhecer a experiência e me deleitar com as suas gostosuras fantásticas, mulher.
    Bj grande

  2. Bi Mello diz:

    Quantas alegrias e prazeres!
    O Café da Maria marcou lindamenre nosso 2018, em Ubatuba!!!
    6a feira era dia de encontros afetuosos e felizes e de se deliciar com sabores inusitados e indescritíveis!
    Obrigada Maria, por compartilhar seu talento e delicadeza conosco! Como eu aguardava aquelas manhãs!!!
    Desejo que sua colheita seja farta e que lhe faça feliz!
    Você merece, querida Maria Capai!!!

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