Sobre cidadania e um espaguete para três

Conforme combinado, o eletricista tocou o sino da minha casa na manhã de sábado. Ele e seu filho pré-adolescente entraram, listamos juntos o serviço, e eu saí para providenciar o material necessário. Depois de duas lojas, muitos interruptores e fios, estacionei no supermercado mais próximo para comprar um espaguete e um tomate pelado; ao invés de buscar marmitas, decidi fazer um almoço para nós.

Espaguete com bacon alcatra e molho de tomate

Optei pela fila para o caixa rápido – de até 10 volumes. Olhei para o carrinho da frente, que carregava um número de itens além do permitido, e lembrei porque há tempos eu não pisava naquele supermercado. Eu havia passado por uma situação semelhante ali, e, naquela ocasião, delicadamente, indiquei para o consumidor à minha frente a placa que informava o limite de volumes. A caixa fingiu não escutar e começou a passar seus mais de 20 itens, enquanto o sujeito, que fazia questão de exibir seus músculos de academia, me olhou com cara de deboche e disse: “chame o gerente”. Fiz exatamente isso, porém, enquanto o funcionário não chegava, o homem seguia me encarando com expressão de vencedor que zomba da derrota alheia. Arriscou uma nova frase: “chame a polícia”. Fixei meu olhar no dele e respondi: “não gasto energia com pessoas como você”. Enquanto sua boçalidade engatava a primeira marcha no carro, a caixa passava meus poucos itens e o gerente finalmente aparecia. Narrei o acontecimento e sugeri que as pessoas responsáveis pelos caixas fossem treinadas para só aceitarem compras que respeitassem o limite estabelecido. Fui-me embora chateada.

Passados alguns meses, lá estava eu de novo. Mas o pressentimento de uma desagradável repetição foi interrompido pela voz que comandava aquele caixa rápido: “aqui são apenas 10 volumes, senhor”. Uma chama de alegria acendeu dentro de mim e não me contive ao escutar a sonsa fala do senhor, que questionava se tinha mais de 10 itens em seu carrinho:
– “um, dois, três, quatro, cinco (…), dezessete volumes”, contei em voz alta para ele.
E o sujeito, contrariado, deu meia volta, murmurando que não compraria mais nada.

Durante os minutos gastos para computar minha compra, a funcionária do caixa desabafou sobre a quantidade de caras de pau que tenta passar com mais de 10 itens. Ali, naqueles poucos instantes, refletimos juntas sobre a incoerência das pessoas que reclamam dos políticos, mas em seus cotidianos não praticam o básico da cidadania, desrespeitam o outro, e cometem pequenas infrações e até corrupções.

De volta para casa, cortei em tiras o bife que estava na geladeira, fatiei um bom bocado de bacon e juntei tudo a um molho de tomate que cozinhou por quase uma hora. Sentei à mesa com o eletricista e seu filho; compartilhamos a comida e muitas histórias. Ao final do dia, ele tinha mais dinheiro no bolso, seu filho mais conhecimento sobre uma possível futura profissão, a caixa, seu dever cumprido, e eu, além de mais luz em casa, tinha ainda uma gostosa sensação de crença na humanidade.

Espaguete com bacon alcatra e molho de tomate

Obs.: a receita foi um improviso e as quantidades são aproximadas, mas essa combinação é sempre boa. O inhame entrou para deixar o prato mais saudável e o molho mais encorpado.

Espaguete com bacon, alcatra e molho de tomate

Ingredientes
250 g de espaguete (ou outra massa de sua preferência)
1 lata de tomate pelado
100 g de alcatra em tiras
1/3 de xícara de bacon cortado em cubos pequenos
1 inhame ralado
3 dentes de alho laminados
1/2 cebola picada
1/2 colher de sopa de mel
1 folha de louro
páprica doce e/ou picante a gosto
sal e pimenta-do-reino a gosto
folhas de manjericão
azeite
queijo parmesão ralado

Modo de fazer
Aqueça o azeite em uma panela de fundo grosso e doure o bacon. Junte as tiras de carne e frite até mudarem de cor. Refogue o alho e a cebola, acrescente a páprica e a folha de louro e, em seguida, o tomate pelado e o inhame ralado. Encha metade da lata com água, junte ao molho, reduza o fogo e tampe a panela.

Leve ao fogo outra panela com 2,5 litros de água com um pouco de sal para cozinhar a massa. Assim que ferver, coloque o espaguete e cozinhe pelo tempo indicado na embalagem. Reserve um copo da água do cozimento da massa e escorra o espaguete.

Experimente o molho, ajuste sal e pimenta, e, se necessário, acrescente um pouco da água do cozimento da massa. Desligue o fogo, dissolva o mel no molho, e coloque o espaguete na panela. Envolva-o com o molho, misture as folhas de manjericão e acrescente um fio de azeite. Sirva em seguida com queijo parmesão ralado.

Monstro pois é algo que bota muito medo quando se trata da auto estima masculina http://faricbr.com/i.php?s=preco-levitra-5mg, embora em menor quantidade, também é usado em remédios que combatem a hipertensão pulmonar.

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11 comentários

  1. Jeferson diz:

    Obrigado! Seu post me deixou mais alegre e com fome!

  2. Francisco Barcelos diz:

    Muito legal

  3. celia ribeiro diz:

    que lindo, Maria! Um brinde ao dia a dia coerente com os princípios de cidadania, e seus prazeres!

  4. No supermercado normalmente eu perco a esperança na humanidade: além desse exemplo que você descreve tem também a madame da SUV que para na vaga de deficientes, o senhor que segura lugar na fila enquanto a mulher faz compras, aquele outro que divide a familia em várias filas pra depois usar só a que acaba mais rápido…
    E assim uma atividade que me dava tanto prazer hoje me desmotiva, e se não evito, vou em horários alternativos, porque mesmo estando certo, sei que o errado vai insistir no erro, e entro para a turma dos coniventes.

    Feliz em saber que por aí uma luz de esperança brilhou para você, que ela se multiplique.

    Comidas e histórias deliciosas como sempre ;)

    Bjs
    Marcel

  5. Diana Abreu diz:

    realmente, vivemos num mundo paradoxal!

    pelo facebook vejo como as pessoas, munidas de um celular com câmera e um 3G ou um acesso ao wifi, se sentem as próprias fiscais da vida alheia.

    beleza, a gente as vezes passa raiva com a prepotência dos outros, com atitudes totalmente equivocadas e que merecem sim ser externalizadas para que sirva de exemplo do que não fazer ou mesmo que sirva de prova para casos que envolvam justiça, coisa e tal. Mas o que eu me questiono é quão íntegros, honestos e corretos são todos esses fiscais da vida moderna, que apontam facilmente e instantaneamente os defeitos/erros dos outros mas que fica na fila do caixa rápido com bem mais que os volumes permitidos? que avançam o sinal vermelho rapidinho ou simplesmente jogam o lixo pelo vidro do carro, ou enquanto caminham nas ruas?

    Falta pro povo brasileiro um pouco, ou seria muito?, de consciência e respeito ao próximo.

    Sou daquelas que nessa situação do caixa, cutuco o energúmeno e pergunto se ele reparou na placa, e não adiantando, reclamo em voz alta com a caixa. Não podemos deixar que os ignorantes intimidadores perpetuem essa falta de civilidade.

    O problema do esperto é achar que os outros são burros… pra cima de moi, non!!!

  6. Shirley Medeiros diz:

    Fantastica a história e suas atitudes. Na minha cidade eu me sinto assim: sou deficiente visual, mas, graças a Deus, enxergo um pouco. Não posso dirigir e vejo indignada os caras de pau que estacionam nas vagas reservadas para deficientes. Sinto-me sozinha nesses casos pois aqui, como em qualquer lugar do mundo, vejo essa crise de bom senso tomar conta da humanidade. Mas eu tento fazer meu trabalho de formiguinha chamando o gerente do supermercado que vem se arrastando atender ao meu pedido. E durmo em paz, pode acreditar!

  7. O que mais me revolta é o bom exemplo que alguns pais dão aos seus filhos ensinando-os a consumir antes de pagar.

  8. Oi Maria achei lindo o bowl que você serviu a massa! Pode dizer de onde? Parabéns pelo blog super legal. Bj.

  9. ADOREI!

  10. Alexandre diz:

    Acho que esse post vai inspirar muita gente!

  11. Poxa, parabéns. Não é sempre que se encontra pessoas com espirito cidadão e cordial. Ultimamente as pessoas andam muito agressivas e chatas; ando cansada de ouvir amigos e familiares reclamando do povo ( a tal da classe Cf) que invade seu territorio. Não dizem assim, mas é o que exprimem.

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